Luta de classes<br>motor do desenvolvimento<br>e transformação social

João Dias Coelho (Membro da Comiissão Política do PCP)

Apesar do enorme esforço do poder dominante e dos meios de comunicação postos ao seu serviço para fazer crer que a luta de classes é coisa do passado, e que vivemos um tempo em que os «superiores interesses do País» dizem respeito a todos e devem ser colocados em primeiro plano pelo grande patronato e trabalhadores e pelos chamados partidos do «arco da governação», a luta de classes esteve, está e estará presente na vida quotidiana e na luta que se trava na sociedade.

O interesse nacional é o interesse dos trabalhadores e do povo

Escamoteando essa realidade objectiva que é a luta de classes e apresentando os «superiores interesses do País» de forma inócua (como se eles existissem à margem dos interesses de classe e da natureza de classe do poder político), a ideologia dominante procura negar a contradição de interesses entre o trabalho e o capital. Na verdade e num tempo em que é posta em evidência a importância do poder político, em que PSD e CDS se agarram como lapas para assegurar a continuação da política de direita de declínio e submissão nacional e de empobrecimento dos trabalhadores e do povo, cabe aos trabalhadores e ao povo continuarem a lutar para lhe pôr fim e abrir caminho a uma política ao serviço do povo e da pátria.

Para o PCP, o interesse nacional é o interesse dos trabalhadores e do povo, é o desenvolvimento e o progresso País, a justiça social, a defesa da independência e soberania nacionais. Esta é uma opção clara, uma opção de classe.

Elegendo a luta de massas como factor determinante da transformação social, o PCP intervêm nas batalhas eleitorais, considerando-as uma expressão, não única, nem a mais importante da luta de classes, da luta pelo poder.

As lutas travadas nas empresas e locais de trabalho, e na sociedade em geral, nos últimos quatro anos – em que o PCP esteve sempre presente e solidário – não só demonstraram a sua importância fulcral na resistência e na conquista concreta de direitos, como evidenciaram a contradição entre os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, representados no plano político por PSD/CDS com o apoio do PS nas matérias estruturantes, e os interesses da esmagadora maioria do povo, pondo a nu que a concepção de interesse nacional dos grandes grupos económicos e financeiros representados no plano social pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), entre outros, não é a dos trabalhadores e do povo.

Não à política de direita

O resultado das eleições de 4 de Outubro demonstram ao contrário do que nos quiseram fazer crer, que afinal o que o povo elegeu foram 230 deputados e não um primeiro-ministro. Com o seu voto, também ele expressão da luta de classes, o povo disse não ao prosseguimento da política de direita, ao velho e estafado conceito de partidos do arco da governação (vendida em doses maciças, pelo poder dominante e pelo grande capital) que, para além de exclusivo, procura sobretudo manter no poder, com mais ou menos nuance, os que ao longo de mais de três décadas governaram contra os interesses da maioria do povo.

Assumindo as eleições como uma importante frente de luta, o PCP, como a experiência de quase 95 anos de existência demonstra, elege a luta da classe operária, dos trabalhadores e das massas populares em defesa dos seus direitos, por um Portugal livre e soberano, como o instrumento fundamental de intervenção e de transformação social e política.

Vivemos um tempo de intensificação da luta de classes, um tempo em que o papel da luta dos trabalhadores e do povo é fundamental na criação de condições políticas para uma alternativa política que concretize uma política que verdadeiramente responda às aspirações dos trabalhadores e do povo, à elevação das suas condições de vida, ao combate às injustiças e desigualdades sociais, ao necessário crescimento económico e a uma efectiva política de emprego.

Sendo certo e seguro, como demonstra a experiência internacional, que a direita e a social-democracia nas suas diversas matizes tudo farão para travar o curso da História, o PCP, sem perder de vista o seu objectivo supremo, age e actua no plano imediato no quadro das condições concretas para travar o prosseguimento da política de declínio nacional e de empobrecimento do povo, considerando a intervenção e a luta dos trabalhadores e das massas, conjugadas com a acção política e institucional do Partido e o seu reforço, como os elementos centrais. Seguro do seu caminho, o PCP tudo fará – sem abdicar das suas posições de princípio e do seu caminho de luta por uma política patriótica e de esquerda, da democracia avançada e do socialismo – para pôr fim à política de direita e abrir caminho a um futuro de progresso e justiça social.




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